Great Place to Work: o que é e por que investir nessa tendência?
Quantos profissionais você conhece que efetivamente gostam da empresa em que trabalham? Pois uma das grandes contradições da vida adulta parece ser essa: apesar de sonharmos com um bom emprego, um salário e reconhecimento profissional, é raro encontrar alguém que não enfrente conflitos constantes no ambiente de trabalho, que não se sinta subestimado ou esgotado mentalmente – basta ver a onda de burnouts que inundou os escritórios nos últimos anos. Mas será mesmo que a relação entre empresa e funcionário precisa ser sempre tão difícil?
Boas experiências existem
Nos anos 80, um jornalista americano chamado Robert Levering abraçou o desafio de investigar as principais empresas no seu país e descobrir o que os funcionários pensavam delas – e quais seriam, se é que haveria alguma, as melhores para se trabalhar. Levering acabou descobrindo que existiam, sim, ambientes corporativos saudáveis, e decidiu fundar uma consultoria dedicada a espalhar essa experiência, ranqueando as marcas mais bem avaliadas pelos trabalhadores e incentivando outras empresas a se tornarem, também, um “ótimo lugar para trabalhar” – ou, como ficou conhecido, um “Great place to work”.
De lá para cá, cresceu consideravelmente o número de empresas preocupadas em oferecer uma experiência melhor e mais humanizada para a sua equipe, mas os desafios ainda são muitos. Afinal, o que configura, de fato, um great place to work, e por que as marcas deveriam investir nessa tendência?
Gentileza gera gentileza – e resultados
Trabalhar num ambiente agradável não é bom apenas para a saúde mental dos envolvidos, mas também para os negócios. A experiência de empresas reconhecidas como great places to work tem mostrado que profissionais que se sentem valorizados e respeitados tendem a apresentar um desempenho melhor, trazendo mais resultados e ainda ajudando a motivar seus colegas de equipe. Isso porque eles se mostram mais dispostos a realizar suas tarefas diárias e a dar aquele “gás” a mais quando necessário, já que conseguem enxergar um futuro desejável ali.
Os resultados são visíveis: segundo uma pesquisa conduzida pela FTSE Russell em 2023, empresas listadas na Fortune 100 Best Companies to Work For tiveram um desempenho três vezes melhor no mercado financeiro do que suas concorrentes no período entre 1998 e 2022, configurando opções mais interessantes para investidores. Além disso, essas empresas tiveram uma taxa de rotatividade dos empregados cerca de 50% menor que as demais.
Vantagens dentro e fora da empresa
Além de reter mais funcionários, gerando uma economia em recrutamento e treinamento, uma reputação positiva pode atrair novos talentos de alto calibre. São profissionais que entendem que, dentro de um ambiente aberto ao diálogo, suas ideias serão levadas em conta e suas habilidades poderão ser mais bem aproveitadas. Um contexto de confiança e colaboração também é um incentivo à inovação, o que por sua vez pode impulsionar o crescimento da marca e diferenciá-la no mercado.
O impacto de ter um bom ambiente de trabalho vai além dos corredores da empresa e, externamente, contribui para a construção de uma marca forte – clientes e parceiros comerciais têm maior confiança em empresas que demonstram um compromisso com o bem-estar de seus funcionários. A reputação de ser um excelente empregador também pode atrair investidores interessados em apoiar organizações com valores sólidos e uma cultura saudável.
Além disso, as empresas que se esforçam para ser um great place to work frequentemente se destacam em sua responsabilidade social. Elas têm mais probabilidade de implementar práticas sustentáveis, apoiar a comunidade local e adotar políticas que beneficiem não apenas os funcionários, mas a sociedade em geral, demonstrando o compromisso com valores mais amplos do que o lucro.
Como criar um great place to work?
Independentemente de conquistar um selo ou uma certificação pontual, construir um bom ambiente de trabalho é um exercício diário, que depende principalmente de transparência e diálogo. Cada funcionário deve se sentir acolhido, ouvido e reconhecido, amparado em questões de saúde física e mental, mas também estimulado, desafiado, motivado; ele deve saber que pode crescer junto com a empresa, e que desempenhar a sua parte é essencial para que isso aconteça.
Assim, é importante que os líderes forneçam feedbacks claros e regulares à equipe, que possibilitem momentos de aprendizagem e troca de experiências, que comemorem cada conquista individual e coletiva, e que os funcionários se sintam seguros para expressar ideias e preocupações sem medo de retaliação. Em outras palavras, ninguém quer sentir que é apenas mais uma engrenagem dentro de uma corporação, mas sim um ser humano, que pode falhar e se superar, aprender e evoluir, e contribuir como um membro essencial de uma equipe unida por uma missão.
Novos tempos, novos desafios
Além disso, o cenário contemporâneo traz alguns desafios específicos a serem negociados entre empresa e empregados: a flexibilidade é um deles, já que o trabalho remoto ganhou força durante a pandemia de COVID-19. Desde 2020, muitos profissionais têm preferido posições que permitam maior mobilidade, e modelos híbridos têm ganhado mais espaço, sem necessariamente significar perda de produtividade.
Outro aspecto a ser levado em conta é a inclusão. Hoje, muitos profissionais entendem que um bom lugar para trabalhar é também um lugar diverso, aberto a diferentes experiências e pontos de vista. Assim, investir em processos seletivos que incluam igualmente homens, mulheres, pessoas trans ou não-binárias, pessoas pretas, pessoas de diferentes origens e classes sociais, pessoas com deficiências, de diferentes faixas etárias e em todas as suas formas, ajuda a trazer à empresa uma pluralidade de vozes que, a longo prazo, se reflete numa visão mais ampla e vantajosa sobre o mundo e o mercado.
Pessoas antes de números
Todas as “receitas” para a construção de um ambiente saudável de trabalho, no fundo, têm em comum a mesma premissa: a de que pessoas são mais valiosas do que números – e que o lucro é mera consequência de um trabalho honesto e bem-feito. Pensando dessa forma, fica fácil entender por que as diferenças, nesses espaços, são vistas como qualidades, e não defeitos; por que os problemas pessoais são tratados com seriedade, e não ignorados; ou por que habilidades únicas muitas vezes são mais interessantes do que aquelas que “todo profissional” deve ter.
Um “great place to work”, na prática, é um lugar onde centenas de pessoas – ou dezenas, ou milhares – irão trabalhar todos os dias, por muitos anos (presencialmente ou não). Elas irão se encontrar, se despedir, irão ensinar umas às outras, irão errar juntas e acertar juntas, e irão celebrar cada vitória coletiva como se fosse sua, porque, no fundo, ela é. Porque, numa empresa onde as pessoas querem trabalhar, elas sabem que cada uma importa.